sexta-feira, 17 de abril de 2020

Dua Lipa - 'Future Nostalgia' [2020]

Eu já nem me lembro como é que se escreve aqui. O formato, quero eu dizer. A cena é que eu ando a ouvir muito a mesma coisa constantemente e não há grande coisa nova que me tenha entusiasmado ao ponto de escrever neste pequeno diário musical. Só consigo escrever aqui e ter paciência para isso quando estou muito calminho e tenho cabeça para o fazer, que não tenho tido por 1001 razões diferentes desde a última vez que escrevi. Há que aproveitar a pandemia, portanto cá estamos, não é?

No entanto, estou entusiasmado por ouvir este. Não sei bem porquê, mas está-me a cativar bastante. Portanto, aguenta-te e contém-te, Dua Lipa, sei que estás super expectante por saber o que este gajo do Pragal acha do teu álbum. Say no more, vamos a isso.


Artista: Dua Lipa
Álbum: 'Future Nostalgia'
Ano2020

Okay, primeira coisa a esclarecer imediatamente: ela é super gira, nem sequer vou estar com rodeios. Senti a necessidade de dizer isto só porque gosto de constatar o óbvio e por alguma razão sinto necessidade de dizer isto quando falo dela, porque omg não é?

De qualquer das maneiras, uma música chamada 'Don't Start Now' tem dado bastante na rádio já há um ou dois meses e a cada vez que passava eu ia gostando cada vez mais. Pensei "mas isto é Dua Lipa?", a voz era instantaneamente reconhecível, mas o estilo nem por isso. Atenção, eu gostei de praticamente todas as músicas que ouvi dela até hoje. Gosto muito da 'New Rules', adoro a 'IDGAF' e também gosto das colaborações dela com o Calvin Harris (em 'One Kiss') e com os Silk City (em 'Electrecity' - que grande canção, a minha favorita dela sem dúvida), mas há qualquer coisa neste novo estilo que me cativou.

Pelos dois singles que passam na rádio ('Don't Start Now' e 'Physical'), é facílimo de perceber o porquê do título em termos sónicos, pelo menos. Ambas as canções têm uma forte influência nas músicas disco e pop dos anos 70 / 80 e no entanto soam completamente modernas, sem deixar dúvidas que foram lançadas em 2020. Intriga-me perceber como é que esse fenómeno é possível de ser executado não só numa música mas sim num álbum inteiro.

Eu adoro música dos anos 70 e dos anos 80, por isso é que me abriu tanto a curiosidade quando ouvi as músicas na rádio. Quero muito ouvir este álbum e estou curiosíssimo para saber como é e o que tem para lá escondido. Pelas críticas que vejo e pela opinião de um ou dois amigos que já reparei que ouviram o álbum, estou a ver mais ou menos um consenso na casa do "bom" ao "muito bom". Há até quem sugira que nos Grammys o álbum deveria ganhar o prémio de Álbum do Ano. É muito hype mas eu normalmente, e felizmente, não me deixo influenciar por hype, nunca. (Não esquecer que os twenty one pilots nos avisam isso na canção chamada, aham, 'The Hype'. Se calhar escrevo sobre esse álbum aqui, tenho de ver ainda).

Mas acho que não vou ficar desiludido e estou confiante que vai ser dos meus álbuns favoritos deste último ano e tal. Mas para isso... há que ouvir. Portanto, siga.

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1. 'Future Nostalgia'



Porra, que início. A abrir com tudo, mesmo. As vozes "robóticas" e os synths a iniciar a batida de uma música que soa familiar por se inspirar muito numa música mais antiga, no disco dos anos 70, e no entanto soa tão futurista. Não é uma combinação fácil sem acabar a soar a um cliché muito mal feito, mas aqui resulta na perfeição.

A Dua (acho que já a posso tratar só por Dua, não é?) já falou abertamente sobre esta música e explicou o que é óbvio pela letra: é uma mensagem feminista que mete o destaque na música feita por artistas femininas num mercado muitas vezes machista em termos de imagem e de conteúdo. Sem contar com todos os jogos financeiros que daí resultam. Mas quem é que pode tirar valor a uma artista que começa um álbum com estes versos?
"You want a timeless song, I wanna change the game
Like modern architecture, John Lautner coming your way
I know you like this beat 'cause Jeff's been doin' the damn thing
You wanna turn it up loud, Future Nostalgia is the name"
É preciso tomates para conseguir dar uma primeira impressão destas num álbum... ou pelos vistos não. (Má piada sim ok nqs). Já agora, o Jeff de quem ela fala é o compositor com quem ela escreveu esta canção que já tem uns êxitos no seu palmarés, p.ex. 'We Are Young' dos fun. e 'Sign Of The Times' do ex-One Directioner Harry Styles.

A melodia do refrão é super cativante e puxa por nós, e, quando parece que vai explodir, retrai-se e chegamos a uma espécie de pós-refrão (?) em que a nossa Female Alpha canta num falsete fantástico harmonizado, apenas acompanhada pelos sintetizadores e a batida que dá à música um groove fortíssimo.

Sinceramente não sei se havia melhor maneira de começar este álbum, a música é muito, muito boa e tenho a certeza absoluta que esta é daquelas que vou imediatamente adicionar à minha playlist porque me dá uma vontade de dançar que é uma estupidez. E acreditem, ninguém me vai querer ver a dançar. Há coisas mais bonitas de se ver.


2. 'Don't Start Now'


"If you don't wanna see me"
Instantaneamente reconhecível. Já anda a passar na rádio há uns meses e por isso já conheço. Mas ouvir agora com cuidado e com os headphones metidos dá outra potência à música. Quero eu dizer: oh meu Deus, este baixo é tão bom. Só a voz e o baixo no início destrói-me completamente de tão funky que é.

Essa combinação volta no refrão, que só por si já é muito forte também, mas quando na segunda parte entram os sintetizadores leves a tocar os acordes e a guitarra oh-so-70's eu rendo-me completamente. Sou viciadão em músicas dos anos 70 e esta música soa tanto a anos 70 do século passado como a anos 20 deste século.
"Though it took some time to survive you
I'm better on the other side
I'm all good already
So moved on, it's scary
I'm not where you left me at all"
Claramente sobre o fim e as consequências de um final de uma relação, a nossa amiga Dua faz-se de forte e mostra que já está completamente superada de todo o mal que isso lhe trouxe. Quem nunca, né? Eventualmente todos chegamos a esse ponto, quero acreditar.

A música é muito boa e não é absolutamente nada surpreendente que tenha sido (e esteja a ser) o sucesso que é. Que bela canção. Cheia de dicas, mas muito boa.
"Don't show up, don't come out
Don't start caring about me now
Walk away, you know how"
Dica? Dica.


3. 'Cool'




Mais uma música com fortes vibes de 70's, mas esta parece diferente das duas anteriores. Como a Dua disse numa entrevista: "Cool is cool". Amén.

Tem muito um espírito de Verão, pela abertura da melodia com o espaço todo para respirar que estes acordes dão. É tranquila e passa uma mensagem super romântica que quem já viveu um famoso amor de Verão saberá relacionar-se e perceber o que ela quer dizer quando canta:
"We'll get the heat and the thrill
Gives you more than any pill
Never runnin' out of juice
When it's only me and you"
Essa estação do ano em particular tem muito esta coisa, não é? É estranho, parece que há coisas que acontecem que são impossíveis de acontecer em qualquer outra altura porque dá a sensação que o cérebro funciona de maneira diferente quando não há preocupações mas há praia e calor. Não sei, ela explica a sensação melhor que eu.

Gostei muito, mais calminha mas boa. Esta música tem muito potencial para dar muito na rádio este Verão. Leram aqui primeiro, não se esqueçam.


4. 'Physical'



Outra canção que já dá na rádio há uns tempos e que captura na perfeição o que este álbum pretende passar. Na primeira vez que se houve somos transportados para outra altura mas ao mesmo tempo dá a sensação de estarmos no presente e não nos deixa na dúvida. Literalmente nostalgia futura.

Okay, esclarece-se já isto: é óbvio que esta música é inspirada e uma homenagem à outra 'Physical', da Olivia Newton-John. Não é segredo nenhum, deixem-se de coisas. Sempre blah blah blah a reclamar, mas eu sei ok? Larguem-me, assim não dá. Comportem-se.

Mas pronto, de qualquer das maneiras esta canção não tem nada a ver com essa outra canção. A única coisa que têm em comum é a vontade de dançar que dão. Esta começa com um outro sintetizador a fazer de baixo de uma forma super hipnótica que cativa logo a abrir. 
"Who needs to go to sleep when I got you next to me?"
És esperta, tu. Mais nada, é isso mesmo. Como ela própria diz, e mantendo um outro tema recorrente neste álbum, não há mal nenhum numa mulher expressar a sua sexualidade e cantar sobre a vontade que tem de... fazer coisas quando está com ele ao pé dela na cama. Portanto, e bem, pretende tornar a noite mais... física.
"All night, I'll riot with you
I know you got my back and you know I got you
So come on
Let's get physical"
O vídeo é excelente, já agora. Recomendo que vejam, muito engraçado.

Esta música é claramente de festa, e parece que vai bater forte nas discotecas porque a própria letra fala de dança e da vontade de dançar que as pessoas têm quando o estado de espírito é o certo. Sem dúvida uma excelente escolha para segundo single deste álbum. Até agora, impecável.


5. 'Levitating'


Literalmente no primeiro segundo da música dá para perceber que esta música pertence a 100% este álbum. Tão retro. Que bela escolha de efeito para o sintetizador, é muito fixe.

Esta música agarrou-me logo ao início com a batida. Dois compassos de quatro tempos cada com a batida forte sempre no 2 e no 4, que é sempre o mais comum. Mas aqui no final do segundo compasso, no quarto tempo, há um contratempo com a batida forte no tempo certo. Ou seja, ouve-se claramente as palmas e na última vez dos dois compassos são duas palmas e isso juntamente com a melodia é genial, fica tão mas tão bem.
"If you wanna run away with me, I know a galaxy
And I can take you for a ride"
É muito raro uma música poder-se resumir logo no primeiro verso, mas é exactamente o que acontece nesta música. A musicalidade desta canção é muito forte e dá-nos uma sensação espacial que ela explicita na letra ao dizer que se quisermos podemos ir com ela numa viagem a uma galáxia diferente, que é exactamente o que ela faz com esta música.

Mais uma vez tem um tema romântico, o que obviamente é o tema mais recorrente da história da pop e com razão: é algo com que todos nos podemos relacionar, tanto o bom como o mau. E esta música é sobre o processo de conhecer a alguém e apaixonarmo-nos, juntamente com as sensações irracionais que isso traz juntamente com esse sentimento lindíssimo que é começarmos a apaixonarmo-nos por alguém, como, por exemplo, irmos a outra galáxia e estarmos a levitar.
"I got you, moonlight, you're my starlight
I need you all night, come on, dance with me
I'm levitating"
É completamente esta a sensação real e a que ela expressa na perfeição na canção. E os instrumentos usados também ajudam e muito nesta percepção. A guitarra funky que já se vem tornando comum ao longo deste álbum, juntamente com a batida e com os sintetizadores. No entanto, há um pormenor que eu queria destacar porque fiquei encantado logo que ouvi. No primeiro pré-refrão nota-se na mistura mas muito escondidas uns sintetizadores a fazer um efeito de strings numa forma mais livre a criar uma melodia e é um pormenor interessante, mas no segundo pré-refrão essas mesmas strings vêem à frente e acompanham a voz do princípio ao fim e eu achei esse pormenor lindíssimo. Na terceira vez que o pré-refrão é cantado é quase completamente acapella, ou seja não há uma única repetição na melodia desse pré-refrão e todas elas puxam cada vez mais pelo ouvinte. Pelo menos por mim, foi exactamente isto que senti.
"My love is like a rocket, watch it blast off
And I'm feeling so electric, dance my ass off
And even if I wanted to, I can't stop"
Mais uma vez, é exactamente isto. Não conseguimos parar de dançar, de sorrir, de nos sentirmos eléctricos quando começamos a ganhar sentimentos pela pessoa que conhecemos. É a parte mais bonita de tudo isto, o que nos faz sentir e o que nos dá a sensação de estarmos a levitar até outra galáxia.

Queria também referir o quão natural e espectacular eu achei o pós-refrão que na primeira parte não existiu mas que a partir do segundo refrão apareceu que foi a melhor coisa da música inteira para mim.
"You can fly away with me tonight
Baby, let me take you for a ride
I'm levitating"
A forma como todos os instrumentos entram em sintonia total e as vozes secundárias harmonizam com a própria voz principal de uma forma tão natural e funky foi o que me fez perceber que esta para mim é, na boa, a melhor música do álbum até agora. É muito, muito boa e uma verdadeira representação do conceito do álbum, do conceito da paixão e da vontade de dançar que a Dua Lipa quer dar. Parabéns, conseguiu.


6. 'Pretty Please'




Um breather, claro. Num álbum que foi sempre a abrir até agora é bem-vinda uma música mais calminha, principalmente depois da 'Levitating' que é quase a definição pop de estar a dar tudo. Mas atenção: ser calminha não significa que seja má, e, neste caso, significa precisamente o contrário.

Mais uma vez, há que tirar isto do caminho: o tema da música não é assim tão calminho. Basicamente a moça está tensa mas agora que o moço chegou ela quer sentir uma "tensão diferente". No fundo é uma música sobre sexo e o seu "sweet relief", como a Dua diz ao longo da música.
"I know that I seem a little stressed out
But you're here now, and you're turning me on"
Musicalmente é outra música que começa só com a voz acompanhada única e exclusivamente pelo baixo, que, mais uma vez, é muito ao estilo do funk mais antigo. É bom saber que ela conseguiu nesta parte do álbum acalmar os ânimos e no entanto manter a corrente nostálgica da música que até agora caracterizou tão bem este projecto. É um funk diferente desta vez, não só dançável como sexy, demonstrado mais uma vez não só pelo baixo e pelos sintetizadores como também pela guitarra a fazer as suas partes com o famoso pedal wah-wah que já desde os tempos pré-Marvin Gaye era uma forma bastante eficaz de definir uma mood mais sensual.

Acho que funciona muito bem nesta parte do álbum e fico contente por ter aparecido porque acho que o projecto já beneficiaria com algo mais calmo deste género.


7. 'Hallucinate'


Logo ao início vê-se que já não há mais breather para ninguém, vamos a abrir outra vez. Mas desta vez a música não chama muito os anos 70 mas sim os anos 90 / 00. Por alguma razão pensei na 'Believe' da Cher assim que ouvi a batida, provavelmente por causa mesmo desta batida que é tão característica da década. É engraçado que não acho que esse estilo tenha "envelhecido" tão bem como o funk ou o disco dos anos 70 / 80.

Atenção, não critico a música dessa altura quando digo isto, não é de todo o meu objectivo, mas parece que não é tão universal, não sei. Eu cresci com esse tipo de música no fim dos anos 90 e início dos anos 2000 mas aquelas batidas fortíssimas do europop do género 'Dragostae Din Tei' ou 'Blue (Da Ba Dee)' não são de todo a minha cena.
"I'ma love you like a fool
Breathe you in till I hallucinate"
Felizmente não são esses pormenores que esta canção vai buscar à década, mas sim uma batida de dança contagiante que eu vejo perfeitamente a encaixar em qualquer discoteca ou bar de dança dos próximos tempos. Acho que faz todo o sentido porque, como a própria Dua Lipa admite, foi uma música escrita já mesmo a pensar em performances ao vivo no festival de Glastonbury ou coisas desse género, para levar o pessoal que assiste aos concertos à loucura.

É uma música contagiante que não convida muito à análise excessiva da letra de todo, mas nota-se que mais uma vez, e tal como 'Levitating', é uma música sobre o amor e o que isso nos faz sentir. O quanto o amor nos faz perder a noção da realidade e como sentimos por vezes que estamos a alucinar por não estarmos a ver as coisas como elas são mas sim uma forma embelezada de um ponto de vista de quem está apaixonado.
"I hallucinate when you call my name
Got stars in my eyes
And they don't fade when you come my way
I'm losing my mi-mi-mi-mind, mi-mi-mi-mind"
É bonito, não é? Eu gostava da sensação, pelos vistos ela também. Mais uma boa música para a colecção e diferente das outras.


8. 'Love Again'


Fez-me confusão logo o início desta música porque estava a reconhecer de algum lado mas não fazia a menor ideia de onde era. Então pausei e fui procurar e aparentemente esta música faz sample da música 'Your Woman' dos White Town. Ah, então é isso. Pronto, esclarecido. Play e siga.

Acho que a utilização das strings dessa música fica muito bonita e o tema é algo que infelizmente me diz muito nesta altura. Aparentemente a nossa amiga Dua Lipa teve um relacionamento que não correu e não acabou muito bem e que escreveu isto, segundo ela, como "terapia barata" para lhe dar a ela própria uma espécie de abraço emocional. Esperemos que tenha resultado, Dua, até porque a música em si funciona mesmo.
"I never thought that I would find a way out
I never thought I'd hear my heart beat so loud
I can't believe there's something left in my chest anymore
But goddamn, you got me in love again"
Apesar do tema da música, isto não é de todo uma balada. Apesar de ser mais tranquila, continua a ser uma música de dança que nos transporta para os anos 90 (talvez? nem sei, já) e para as pistas de dança da altura com uma batida consistente e com a voz dela a embelezar muito a melodia. Acho que em particular nesta música a Dua Lipa canta super bem e passa as emoções todas certas para o que a música fala. Foi sentida, quero eu dizer.
"Show me that heaven's right here, baby
Touch me, so I know I'm not crazy
Never have I ever met somebody like you
Used to be afraid of love and what it might do
But goddamn, you got me in love again"
Ela diz que esta é a música favorita dela do álbum por causa do significou para ela e da própria música em si. Eu não partilho desse sentimento porque não lhe tenho a ligação que ela obviamente sente, mas gostei da música e encaixa na perfeição nesta altura do álbum.


9. 'Break My Heart'



Antes de mais, eu já conheço esta música porque este foi o single que acompanhou o lançamento do álbum e eu ouvi-a logo na altura. Mas façam um favor a vocês mesmos e vejam o vídeo que é muito bom.

Okay, esclarecer já uma coisa (eu sinto que estou a dizer muito isto. porque raio?): há aqui um sample do enorme êxito dos INXS chamado 'Need You Tonight', que eu acho que basicamente toda a gente neste mundo conhece. Se não conhecem, vão ouvir. E se conhecem, ouçam também, porque é uma música incrível.

Em relação à música: meu Deus, é tão fixe. Eu adorei logo na primeira vez que a ouvi e acho que dos três singles lançados até agora é o mais forte de todos e com uma distância considerável até.

Como muitas outras músicas neste álbum, começa com o baixo a dar tudo e a definir logo o espírito da música. Desta vez começa em lo-fi e também é eficaz a passar a mensagem até entrar a nossa cantora do momento.
"I've always been the one to say the first goodbye
Had to love and lose a hundred million times
Had to get it wrong to know just what I like
Now I'm falling"
Ain't that the truth? Estou-me a sentir muito em inglês hoje. Porquê? Porque sim, não mandam em mim. Eu faço o que quiser.

A passagem dos versos com o baixo a tocar notas pesadas para o pré-refrão que é super aberto e arejado, com os sintetizadores a tocar os acordes abertos e as vozes com muita reverberação para abrir o espaço que era preciso abrir para o refrão, que nos engana. E engana porque dá a sensação que vai explodir mas, em vez disso, contrai-se e fica apenas a Dua Lipa a cantar, juntamente com o baixo, a famosa riff da 'Need You Tonight', que funciona de forma impecável e é um pormenor de pop que para mim é de génio porque tem tudo o que se quer de um êxito de rádio: imprevisibilidade, seguimento natural, boa batida e vontade de dançar.
"Centre of attention
You know you can get whatever you want from me
Whenever you want it, baby"
A letra é mais uma vez sobre amor e uma outra faceta do mesmo que ainda não tinha sido explorada neste álbum: gosto de lhe chamar o factor "isto é tão, tão bom que se acaba vai ser muito, muito mau". Lá está, ficamos a alucinar e a levitar com a loucura que sentimos pela outra pessoa sem pensar muito nas consequências, como tem, obviamente, de ser para sermos felizes. Por outro lado... e se acaba? É isso que a Dua aborda nesta música de uma forma subtil, sem choros, mas com verdade.

Esse medo / receio é representado no refrão muito bem numa maneira realista da sensação que é ter medo do quão bom isto possa ser.
"Oh no, I was doing better alone
But when you said, "Hello"
I knew that was the end of it all
I should've stayed at home
'Cause now there ain't no letting you go
Am I falling in love with the one that could break my heart?"
É uma sensação estranha, não é? Eu senti muito isso, como é possível algo ser tão bom e no entanto haver momentos em que se foca no que pode eventualmente acontecer de mau em vez do que de facto está a acontecer de bom. São defesas estranhíssimas. O ser humano tem destas coisas super curiosas que não dá muito bem para explicar.

Que bela canção e que single de introdução para acompanhar o lançamento de um álbum ambicioso que cumpre, de facto, as expectativas. Boa!


10. 'Good In Bed'



Este título é muito in your face, não é? Acho que não é preciso adivinhar sobre o que é esta música.

Por outro lado, no fundo a música não é tanto sobre sexo mas sim sobre relações que não funcionam mas que se mantêm precisamente porque o sexo é bom. As pessoas em si não são compatíveis e passam a vida a chatear-se uma com a outra, mas o sexo é tão bom que acabam por ficar juntas.
"If you only knew me
The way you know my body, baby
Then I think maybe we could probably see this through
We could make it through, but"
Já agora, adivinhem como começa esta música. Com... o baixo! Lindo. Apesar de ser a milésima vez que isto acontece este álbum, eu gosto. É tipo um tema recorrente. Eu gosto, não vou mentir.

A música em si não é muito para dançar ao contrário do que tem sido regra geral neste álbum. É mais só uma música pop com uns efeitos sonoros muito giros como um "trompete" do lado esquerdo a meio do refrão e o piano que acompanha o refrão todo. Suave e é um som simpático.

Lá para o fim houve uma bridge que eu tive de parar só para ter a certeza que foi mesmo isto que ela cantou:
"Yeah, we don't know how to talk
But damn, we know how to fuck"
 ...han? Ah, okay. Sim, certo. Boa, pelo menos isso, não é?

Até ela se ri depois de cantar essa parte. Mas enfim, a música é gira. Não é de todo a melhor música do álbum, deve ser até a que menos gostei até agora, mas mesmo assim é gira, não é uma música má, de todo.


11. 'Boys Will Be Boys'



Chegamos assim ao fim do álbum, e a música que o fecha é a excepção à regra que foi delineada desde a primeira música: que o álbum era para ser uma festa, para dançar e para nos divertir e libertar das nossas preocupações. Mas esta não. Esta não é assim.

A música aborda um tema muito sério: a falta de segurança que as raparigas / mulheres sentem e os comportamentos tóxicos de alguns homens que são justificados pela sociedade precisamente com a frase que serve de título para esta música: "boys will be boys", que é como quem diz "oh, são só rapazes, é assim que eles são, que é que queres?". É um pensamento um bocado retrógrado, não é?

Eu não percebo de todo o que uma rapariga sente ao andar na rua sozinha nem o medo que isso lhe traz, mas sei que é geral e, infelizmente, um bocado aceite. Há sempre aquela coisa da rapariga bonita a andar na rua e a ser assediada sem poder fazer nada em relação a isso sem ser continuar a andar em frente e esperar que a pessoa se vá embora. Conheço alguns casos de pessoas próximas que sofreram disso e é algo que me deixa genuinamente enojado e que não me dá sequer vontade de tentar compreender o outro lado, porque não há sequer forma de o fazer. O que leva um homem de meia idade a seguir uma adolescente pelas ruas durante dezenas de metros a assediá-la verbalmente? O que o leva a crer que é algo aceitável e não absolutamente nojento? A Dua Lipa fala disso acerca desta música.
"For girls at school, there was always that fear of trying to get home before it got too dark. I can’t believe that I had to actually put keys through my knuckles, like Wolverine, in case anybody might say something or try to chase or attack me. It’s crazy that we have to think about these things and not feel safe for a three-minute walk down the road from the bus stop to your flat, and I feel we maybe don’t educate the boys enough to understand what it’s like to be a girl. I just want this song to be a conversation starter. I want it also to just be a little bit of an eye-opener."
Só consigo imaginar a merda que é esta sensação. Não faço ideia como é sentir, mas sei como é assistir e como é ouvir relatos de pessoas que nos são queridas, que só queremos o melhor para elas e que não há absolutamente nada que elas possam fazer em relação a estas situações sem ser ignorar e seguir em frente com a sua vida, evitando ruas específicas ou caminhos onde acham que pode haver a possibilidade de serem atacadas. Nojento. Absolutamente nojento.

No entanto, do que eu percebo sim é de música, e esta é boa. É obviamente, como já disse, sobre um assunto sério, e a música representa bem isso. Com uns tons mais escuros e com umas strings lindíssimas, com uma linha melódica que a voz corre muito bem durante os versos.
"It's second nature to walk home before the sun goes down
And put your keys between your knuckles when there's boys around
Isn't it funny how we laugh it off to hide our fear
When there's nothing funny here?
Sick intuition that they taught us, so we won't freak out
We hide our figures, doing anything to shut their mouths
We smile away to ease the tension so it don't go south
But there's nothing funny now"
Ela pinta uma imagem muito poderosa e explica bem o que sentia e sente ao ser uma mulher. A música está em constante crescendo à medida que se vão juntando instrumentos. No pré-refrão faz referência a uma música que eu gosto muito, que é a 'The Kids Are Alright' dos The Who. Mas, neste caso, o que ela diz é que, de facto, os kids não estão alright porque o comportamento apresentado é este mesmo que ela explica.

O refrão em si é simples mas elegante. Nota-se um coro de raparigas que me parecem ser mais novas a juntar-se à Dua Lipa a cantar o título da canção com uma adição no fim: "Boys will be boys, but girls will be women". Até porque não têm outra opção do que serem mulheres muito mais cedo do que seria esperado para se protegerem.
"I'm sure if there's something that I can't find the words to say
I know that there will be a man around to save the day
And that was sarcasm, in case you needed it mansplained
I should've stuck to ballet"
Dica? Dica. E verdade, infelizmente.

Na bridge o coro de raparigas repete o refrão acapela que passa um efeito muito bonito que dá muitos pontos a esta canção. Acaba mais uma vez com o refrão mas desta vez com um rufo de bateria quase como militar provavelmente para representar o instinto de defesa que a Dua Lipa quer mostrar que as raparigas são obrigadas a ter.

A única coisa que tenho a apontar é que fiquei com vontade de ouvir mais nesta música. Acho que foi muito curta para a mensagem que quer passar, e que com o crescendo que há desde o início pedia, pelo menos, por mais uma repetição do refrão no fim da música, para, aí sim, terminar no ponto emocional mais alto possível. Com as strings, a bateria, o coro e todo o acompanhamento à volta disso a entrar no fim, eu sinto que ficou a faltar pelo menos mais uma repetição, o que sinceramente acho que ia dar muitos pontos a esta canção como canção individual e como tema que fecha o álbum. Acho que era perfeito dessa forma.

De qualquer das maneiras, a música é muito bonita e passa uma mensagem muito forte que a Dua Lipa é famosa por passar do empowerment das mulheres e de tentar mostrar a força e o orgulho no que é ser mulher: na dor, na sexualidade, no medo... em tudo. É muito bonito de se ver.
"Boys will be, boys will be
Boys will be, boys will be boys
But girls will be women"



Resumo:

E assim termina mais um álbum, não é? Há coisas que sim senhor. 

Eu gostei muito deste álbum, não me decepcionou absolutamente nada, muito pelo contrário. Honestamente tinha um bocado de medo que o álbum tivesse 4 ou 5 boas músicas e que o resto fosse "palha" mas felizmente não foi mesmo nada disso que aconteceu. 

Apesar de um ou outro momento que não gostei assim taaanto (p.ex. 'Good In Bed' ou 'Hallucinate') gostei à mesma. Ou seja, os momentos mais baixos deste álbum mesmo assim foram bons momentos. Não me parece que seja muito comum que algum álbum pop desta época consiga evocar elementos clássicos da música popular internacional sem parecer uma coisa barata, e este álbum é um triunfo neste aspecto.

A instrumentalização é toda muito boa, com excelentes escolhas sonoras para as partes apropriadas, com sintetizadores lindíssimos e guitarras a dar tudo no funk. Para quem é fã da nossa Female Alpha este álbum é quase perfeito, para quem não é fã é um excelente ponto de partida para começar a ser. 


O álbum é precisamente o que procura ser e cada música passa a mensagem que quer passar. A coerência e a corrente sónica vai do princípio ao fim e passa por excelentes músicas pop que têm tudo para ser grandes êxitos (p.ex. 'Future Nostalgia''Levitating' e 'Break My Heart'), se já não o são ('Don't Start Now' e 'Physical').

Com isto fiquei muito curioso para ver o que nos reserva Dua Lipa no futuro. Mas, por enquanto, há que aproveitar este enquanto ainda tem aquele cheirinho a novo porque vale mesmo muito a pena.

Classificação: 8/10

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